Elembivos - Eluveitie: Interpretação Histórica


"The light, the life, the strength, the harvest, gratefulness
In four moons the antlered one will go to rest."

("A luz, a vida, a força, a colheita, gratidão
Em quatro luas o chifrudo irá descansar.")


Neste post vamos abordar o significado dessa bela música da banda Eluveitie, Elembivos, assim como o que sua letra aborda e seu contexto histórico. A música é, em maior parte, instrumental, e o único verso se repete do começo ao fim da música. 


"Elembivos é a última estação do ciclo do ano. É a festa anunciando a vinda do Outono. É o momento em que colhemos os frutos do nosso trabalho e nos preparamos para o inverno. Ainda assim é um tempo, novamente, onde os poderes da natureza começam lentamente a luta eterna; como Esus está em seu caminho - impacientemente, ansiosamente, caçando desejosamente - para derrubar Tarvos Trigaranos, o qual será massacrado, mas ainda assim renascerá em Anagantios." - retirado do encarte do CD Slania (2008).

Quem é Tarvos Trigaranos?

Tarvos Trigaranus ou Taruos Trigaranos é uma figura divina que aparece num painel de relevo do Pilar dos Barqueiros - em inglês, Pillar of the Boatmen - como um touro com três garças empoleiradas em suas costas. Ele está em baixo de uma árvore, e em um painel adjacente, o deus Esus está cortando uma árvore, possivelmente um salgueiro, com um machado.

No Gaulês, taruos significa "touro", encontrado no Antigo Irlandês como tarb (/tarβ/), no Moderno Irlandês/Gaélico como tarbh e no Galês como tarw (comparado com "touro"em outras linguagens Indo-Europeias como no Latim taurus ou no Lituânio taŭras). Garanus é a garça (garan no Galês, Antigo Córnico e Bretão; relacionado ao geranos, o ritual da "dança da garça" da Grécia Antiga). Treis, ou tri-, simboliza o número três. 


Modelo de reconstrução do
Pilar dos Barqueiros no
Museu de Cluny.
Um pilar originado de Tréveris mostra um homem com um machado derrubando uma árvore na qual pousam três pássaros e a cabeça de um touro. A justaposição das imagens se compara aos painéis de Tarvos Trigaranus e Esus no monumento dos Barqueiros. É possível que a estátua do touro com três chifres, tal qual a originada de Autun (Borgonha, França, antigamente Augustodunum) estejam relacionadas com essa deidade.

O Pilar dos Barqueiros (em francês Pilier des nautes) é uma pedra de forma quadricular em baixo relevo com representações de várias deidades, Gaulesas e Romanas. Datada do primeiro quarto do século I a.C., estava originalmente em um templo na Gallo-Romana civitas de Lutetia (atual Paris, Fança), e é uma das primeiras peças representando arte Gaulesa que carrega uma inscrição escrita. Está à mostra no frigidarium das Termas de Cluny.

Escrito em Latim com algumas características do Gaulês, a inscrição mistura deidades Romanas com deuses que são distintamente gauleses. O pilar é datado por uma dedicação a Tiberius Caesar Augustus, que é, Tibério, que se tornou imperador em 14 a.C.. Foi situada publicamente (publice posierunt) por uma guilda de marinheiros de Lutetia, originada dos civitas de Parísios (nautae Parisiaci). Esses marinheiros eram mercadores que viajavam ao longo do rio Sena. 

A dedicatória principal é para Júpiter, sob a forma de lovis Optimus Maximus ("Amor Maior e Melhor"). Os nomes do imperador e da deidade suprema aparecem no caso dativo como os destinatários da dedicação. Os teônimos restantes são legendas no caso nominativo que acompanham descrições individuais dos deuses. Estes são: Jove, Tarvos Trigaranos (o Touro com três Garças), Volcanus (Vulcano), Esus, Cernunnos, Castor, Smertrios e Fortuna.


O relevo de Tarvus Triganarus
no Pilar dos Barqueiros.
Quem é Esus?

Esus ou Hesus foi um deus gaulês conhecido de duas estátuas monumentais e de uma linha em Bellum civile de Lucano. As duas estátuas no qual seu nome aparece são: o Pilar dos Barqueiros, entre os Parísios, e um pilar de Trier, entre os Tréveros. Em ambos, Esus está retratado cortando ramos de árvores com seu machado. Esus está acompanhado de diferentes painéis do Pilar dos Barqueiros, de Tarvos Trigaranus (o ‘touro com três grous’), Júpiter, Vulcano e de outros deuses.

Uma seção bem conhecida no Bellum civile de Lucano fala sobre as oferendas sacrificiais sangrentas proferidas à tríade de deidades célticas: Teutates, Hesus (uma forma aspirada de Esus) e Taranis. De uma dupla de comentaristas recentes sobre o trabalho de Lucano, um identifica Teutates com Mercúrio e Esus com Marte. De acordo com o Comentário Berne sobre Lucano, vítimas humanas foram dedicadas ao sacrifício para Esus por estarem amarradas a uma árvore e malhadas.


O escritor médico gálico Marcellus de Bordeaux pode oferecer uma outra referência textual à Esus em seu De medicamentis, um compêndio de preparações farmalógicas escritas em Latim no início do século 5 e a única fonte para várias palavras celtas. O trabalho contém um talismã mágico-médico decifrável em gaulês como o que aparece é invocar o auxílio de Esus (pronuciado Eisus) na cura de problema de garganta.
O nome dado "Esunertus" ("a força de Esus") ocorre pelo menos uma vez como um epíteto de Mercúrio em uma inscrição dedicatória. É possível que os Esúvios da Gália, na área atual da Normandia, tomaram seu nome desta deidade.


Interpretações sobre Esus:

John Arnott MacCulloch resumiu o estado das interpretações acadêmicas de Esus por volta de 1911 nos seguintes termos:

M. Reinach aplica uma fórmula aos assuntos destes altares—"O Divino madeireiro derruba a Árvore do Touro com Três Grous." O todo representa algum mito desconhecido para nós, mas M. D'Arbois o encontra alguma alusão aos eventos na saga Cúchulainn. Na imaginação, o touro e a árvore são talvez ambos divinos, e se o animal, como as imagens do touro divino, é dotado de três cornos, então os três grous (garanus, "grou") pode ser um rebus para uma (trikeras) de três chifres, ou mais provavelmente um (trikarenos) de três cabeças. Neste caso, o marceneiro, árvore, e touro poderiam todos ser representantes de um deus da vegetação. 

Em rituais primitivos, representantes humanos, animais ou arbóreos do deus eram periodicamente destruídos para assegurar a fertilidade, mas quando o deus se tornou separado destes representantes, a destruição ou o assassínio, foram vistos como um sacrifício ao deus, e mitos surgiram contando como ele tinha uma vez massacrado o animal. Neste caso, árvore e touro, realmente idênticos, seriam miticamente vistos como destruídos pelo deus a quem eles uma vez representaram. Se Esus era um deus da vegetação, uma vez representado por uma árvore, isto explicaria porque, como o escolástico sobre Lucano relata, sacrifícios humanos à Esus foram suspensos em uma árvore. 

Esus foi cultuado em Paris e em Trèves; uma moeda com o nome Æsus foi encontrada na Inglaterra; e nomes pessoais como Esugenos, "filho de Esus," e Esunertus, "aquele que tem a força de Esus," ocorrem na Inglaterra, França e Suíça. Deste modo o culto a este deus pode ter sido comparativamente muito difundido. Mas não há evidência de que ele era um Jeová céltico ou um membro, com Teutates e Taranis, de uma tríade pan-céltica, ou que esta tríade, introduzida por gauleses, não era aceita pelos druidas. Tal grande tríade existiu, em alguma ocasião da ocorrência dos três nomes em uma inscrição certamente teria sido encontrada. Lucano não se refere aos deuses como uma tríade, nem como deuses de todos os celtas, ou mesmo de uma tribo. Ele põe ênfase meramente no fato de que eles eram cultuados com sacrifício humano, e eram deuses locais mais ou menos conhecidos."

No Neo-Druidismo:

O reapresentador druídico do século 18 Iolo Morgannwg identificou Esus com Jesus pela força da semelhança de seus nomes. Também ligou ambos a Hu Gadarn, escrevendo:
“Ambos Hu e HUON foram sem dúvida originalmente idênticos a HEUS de Lactantius e a HESUS de Lucano, descritos como deuses dos gauleses. A semelhança do último nome para IESU [galês: Jesus] é óbvia e admirável.”
Esta identificação é ainda feita em certos círculos neo-druídicos. Acadêmicos modernos consideram a semelhança entre os nomes Esus e Jesus ser coincidental.

O que é Anagantios?
Anagantios é o quarto mês do ano durante a Proto-História Celta, que começa com Samonios e marcado pela festa religiosa de Samain. É constituído por 29 dias. Ele ocorre entre os meses de Riuros e Ogronios. Ele corresponde aproximadamente a fevereiro do calendário gregoriano. (ver: http://www.livingmyths.com/Celticyear.htm)


Fontes: Wikipédia, LivingMyths e Songmeanings.

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